quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Morte de um Igarapé!











Por Carlos Augusto dos Santos*

Todos os dias, quando saio com meu cachorro para passear uma situação tem-me causado profunda tristeza e muita, muita indignação. No fundo do condomínio onde resido atualmente, alugo evidentemente, passa um braço de um igarapé. Deve ter não mais que trinta, ou quarenta metros de extensão. Para dizer a verdade, não sei de onde vem e apenas faço ilação de que, alhures, se junte as águas portentosas do Rio Negro.

Por instantes me pego pensando em como deveria ser a vinte, trinta anos atrás com suas águas límpidas, cristalinas a percorrer solenemente este pequeno trecho de terra. Ouso pensar até que ali, em algum momento, muitas pessoas se banhavam e refrescavam seus corpos em suas águas geladas, como pescavam e depois repousavam debaixo das árvores que lhe protegem as margens lhe dando sombra em dias de calor. 

Entretanto, o que vejo hoje sintetiza as aspirações mais mesquinhas do ser humano em sua busca vã de eterna ganância por mais e mais bens de consumo e completa despreocupação para com o meio ambiente ao seu redor. Este mesmo meio ambiente que um dia proporcionou a outras pessoas momentos de lazer e de prazer ao longo de toda extensão de seu leito. 

Enquanto observo calado, vejo em suas águas turvas passar, ainda mais depois de uma chuva como a que caiu á noite e parte da manhã na cidade, toda a sorte de detritos tais como: restos de sofá, garrafas de plásticos dos mais variados tamanhos e cores, o que sobrou de uma geladeira velha; o circulo de uma antena parabólica passa rodopiando sobre meus olhos, partes de isopor, marmitas de alumínio, sacos plásticos e uma infinidade de outros materiais e objetos os quais não consigo identificar no vai e vem das águas de coloração barrenta. 

Em suas margens, de um lado e do outro, e mais ou menos três metros acima do leito do rio, as poucas árvores retém em seus galhos uma imensa quantidade de sacos plásticos retidos como se fosse uma espécie de enfeite bisonho nos fazendo recordar que somos nós, os culpados deles estarem ali. 

Tampouco, não é preciso muito esforço para se imaginar que ao longo de todo o seu percurso esta situação seja semelhante, ou em alguns casos, muito pior ainda pela largura da margem do igarapé em alguns de seus trechos, pela quantidade de moradias e das locações comerciais de onde são postos os nossos dejetos.

Penso apenas que os igarapés de Manaus foram morrendo aos poucos, ao longo de todas estas décadas, em nome de um duvidoso progresso, sem que pudessem ouvir seus lamentos e pedidos de socorro. E o que podemos fazer agora? Como recuperar este bem tão precioso? Ainda é possível? A que custo? Quem de verdade se importa com esta situação? O que faz o governo estadual e municipal? E cada um de nós. 

Olho atentamente para o Petrusco, meu Border Collie genérico, na vã esperança de que pudesse compreender minhas angústias. Desvio as retinas para dentro do leito do igarapé novamente e agora percebo que um pneu de bicicleta ficou enroscado na margem esquerda. Sinceramente, não sei o que poderia fazer, além de minha indignação. 
Queria apenas que outras pessoas tivessem a oportunidade de poderem brincar em nossos igarapés, como um dia eu fiz.

Carlos Augusto dos Santos - É Sociólogo e Professor Universitário.


Nenhum comentário:

Postar um comentário