Por Carlos Augusto dos Santos*
Todos
os dias, quando saio com meu cachorro para passear uma situação tem-me causado
profunda tristeza e muita, muita indignação. No fundo do condomínio onde resido
atualmente, alugo evidentemente, passa um braço de um igarapé. Deve ter não
mais que trinta, ou quarenta metros de extensão. Para dizer a verdade, não sei de onde vem e apenas faço ilação de que, alhures, se junte as águas portentosas do Rio Negro.
Por instantes me pego pensando em como deveria ser
a vinte, trinta anos atrás com suas águas límpidas, cristalinas a percorrer
solenemente este pequeno trecho de terra. Ouso pensar até que ali, em algum
momento, muitas pessoas se banhavam e refrescavam seus corpos em suas águas
geladas, como pescavam e depois repousavam debaixo das árvores que lhe protegem
as margens lhe dando sombra em dias de calor.
Entretanto, o que vejo hoje sintetiza as aspirações
mais mesquinhas do ser humano em sua busca vã de eterna ganância por mais e
mais bens de consumo e completa despreocupação para com o meio ambiente ao seu
redor. Este mesmo meio ambiente que um dia proporcionou a outras pessoas
momentos de lazer e de prazer ao longo de toda extensão de seu leito.
Enquanto observo calado, vejo em suas águas turvas
passar, ainda mais depois de uma chuva como a que caiu á noite e parte da manhã
na cidade, toda a sorte de detritos tais como: restos de sofá, garrafas de
plásticos dos mais variados tamanhos e cores, o que sobrou de uma geladeira
velha; o circulo de uma antena parabólica passa rodopiando sobre meus olhos,
partes de isopor, marmitas de alumínio, sacos plásticos e uma infinidade de
outros materiais e objetos os quais não consigo identificar no vai e vem das
águas de coloração barrenta.
Em suas margens, de um lado e do outro, e mais ou
menos três metros acima do leito do rio, as poucas árvores retém em seus galhos
uma imensa quantidade de sacos plásticos retidos como se fosse uma espécie de
enfeite bisonho nos fazendo recordar que somos nós, os culpados deles estarem
ali.
Tampouco, não é preciso muito esforço para se
imaginar que ao longo de todo o seu percurso esta situação seja semelhante, ou
em alguns casos, muito pior ainda pela largura da margem do igarapé em alguns
de seus trechos, pela quantidade de moradias e das locações comerciais de onde
são postos os nossos dejetos.
Penso apenas que os igarapés de Manaus foram
morrendo aos poucos, ao longo de todas estas décadas, em nome de um duvidoso
progresso, sem que pudessem ouvir seus lamentos e pedidos de socorro. E o que
podemos fazer agora? Como recuperar este bem tão precioso? Ainda é possível? A
que custo? Quem de verdade se importa com esta situação? O que faz o governo
estadual e municipal? E cada um de nós.
Olho atentamente para o Petrusco, meu Border Collie
genérico, na vã esperança de que pudesse compreender minhas angústias. Desvio
as retinas para dentro do leito do igarapé novamente e agora percebo que um
pneu de bicicleta ficou enroscado na margem esquerda. Sinceramente, não sei o
que poderia fazer, além de minha indignação.
Queria apenas que outras pessoas tivessem a
oportunidade de poderem brincar em nossos igarapés, como um dia eu fiz.
Carlos Augusto dos Santos - É Sociólogo e Professor Universitário.
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